Atualmente, aumentam mundialmente e, em particular no Brasil os números de casos e a gravidade das denominadas "intoxicações e envenenamentos". Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde, em torno de 3% da população urbana, nos países em desenvolvimento, é afetada, anualmente, por estes tipos de acidentes.
A utillização crescente e abusiva de substâncias químicas não acompanhada de precauções e cuidados necessários, vem causando sérios problemas de saúde às pessoas expostas, usuários desses produtos, na zona rural, rodovias, no ambiente doméstico, nas escolas, nos locais de trabalho, configurando um alto risco para a saúde.
Diante da seriedade dos acidentes, cabe-nos, enquanto profissionais de saúde, conscientizarmos as pessoas dos riscos e trabalharmos, sobretudo, visando a prevenção.
Paracelsus (1493-1541) já dizia "todas as substâncias são venenos, não há nenhuma que não o seja. A dose correta determina o remédio e o veneno". Doses gradativas de uma droga dada a um indivíduo geralmente provocam magnitude de resposta aumentada à medida que as doses são elevadas.
As intoxicações são causadas pela ingestão, aspiração ou introdução no organismo, acidental ou não, de substâncias tóxicas, como:
Entorpecentes
Elas podem ser subdivididas de acordo com o tempo de ocorrência:
aguda (até 24 horas do acidente)
crônicas ,exposição a determinada substância
durante longo tempo, resultando em acumulação do composto
no corpo (metais, como o chumbo, por exemplo).
Diante de uma intoxicação, O QUE FAZER?
Em primeiro lugar, a preocupação deve ser com a MANUTENÇÃO DAS FUNÇÕES VITAIS, proceder as técnicas do Suporte Básico de Vida, tendo em vista a estabilização do paciente:
- A desobstrução de vias aéreas, aspiração de secreções, retirada de corpos estranhos, traqueostomia e outras medidas se necessárias.
- Manutenção da respiração, ventilação e entubação (se necessário)
- Manutenção da circulação, promovendo a estabilização hemodinâmica, obter acessos venosos, coletando sangue para exames laboratoriais de rotina e específicos.
- Tratamento sintomático e específico, monitorização, seguimento.
Em seguida, a DESCONTAMINAÇÃO, com o objetivo de diminuir a absorção, aumentar a eliminação. O vômito pode ser realizada no local, ser utilizada para remoção de grandes partículas.
OBS: É CONTRA-INDICADO na ingestão de produtos corrosivos (ácidos, amoníaco, soda cáustica), quando o paciente estiver comatoso, pelo risco de broncoaspiração de conteúdo gástrico. Também não deve ser estimulada quando da ingestão de estimuladores do sistema nervoso central, podendo precipitar convulsões. Os destilados de petróleo, podem causar pneumonite química se aspirado, podem haver grandes complicações se induzida em crianças menores de 1 ano de idade.
A lavagem gástrica é realizada através da inserção de uma sonda naso-gástrica calibrosa e introdução de solução (soro fisiológico 0,9%) até retorno límpido. Pode-se enviar o conteúdo gástrico para análise.
É largamente utilizado a adsorção química, através do carvão ativado que interrompe a circulação êntero-hepática das drogas e intensifica a velocidade de difusão da substância química do corpo para o trato gastro-intestinal. Pode causar uma redução da motilidade intestinal. Logo após utiliza-se um catártico osmótico (sulfato de sódio, sorbitol) que minimiza a absorção acelerando a passagem do tóxico pelo organismo.
A seqüência do tratamento específico é a administração de ANTÍDOTOS contra o toxicante, cujo efeito oposto, pode agir através da formação de complexos inertes, neutralizando o tóxico, competindo com o tóxico pelo alvo e corrigindo os efeitos tóxicos.
CONSIDERAR SEMPRE, EM RELAÇÃO À SUBSTÂNCIA UTILIZADA:
- Dose terapêutica e dose tóxica
- Ligação protéica
- Pico de ação
- Via de eliminação e meia-vida
- Volume de distribuição
- Nível sérico.
A conduta básica nestes acidentes é:
- Retirar o acidentado do local, levando-o para o ar livre, deve-se tomar cuidado para que o socorrista não acabe intoxicado também, utilizando proteção
- Afrouxar roupas
- Repouso albsoluto
- Medidas de manutenção das funções vitais
- Não provoque vômito se ingerido, nunca devem ser passadas sondas nasogástricas pelo risco de perfuração.Pode-se dar um demulcente (protetor de mucosa), como gelatina dissolvida em água ou clara de ovo
- Se o produto atingiu regiões de mucosa mais sensível, lave cuidadosamente com água corrente
- Se a criança ou outra pessoa manipulou o produto, deve-se lavar as mãos e dedos para previnir contato com outras regiões (olhos, por exemplo)
- Requerem ação rápida para evitar as complicações agudas; a endoscopia precoce é de crucial importância para avaliar a extensão da lesão, sendo um método seguro para definição de condutas e prognóstico.
O tratamento consiste na avaliação rigorosa dos sinais e sintomas, hidratação adequada, controle sintomático, avaliação de função hepática e renal, e especificamente, a administração de quelantes (EDTA de sódio ou cálcio, Dimercaprol, Penicilamina). Podem ser realizados exames complementares de dosagem do metal sérico ou urina.
A questão da segurança não deve se restringir aos que manuseiam os agrotóxicos, aplicando-se também aos operários que os fabricam, às pessoas que os transportam e à população que consomen os produtos nos quais foram utilizados. Tais substâncias além de não apresentarem especificidade para determinada praga (eliminam o nocivo e o útil) poluem o ambiente (persistem no solo por vários anos) e, posteriormente, acumulam-se no homem e em animais.
A contaminação humana por agrotóxicos se dá por via direta (operários das indústrias de síntese, manipuladores e aplicadores) e por via indireta (população exposta). Os principais agentes de intoxicação entre os praguicidas são os inseticidas usados na agricultura, em ambientes domésticos e públicos, classificados em três grandes grupos: os organoclorados, os inibidores da colinesterase (organofosforados e carbamatos) e as piretrinas naturais e sintéticas.
A exposição a organofosforados é um problema que pode atingir boa parte da sociedade, desde os grupos mais expostos (operários, formuladores, aplicadores na agricultura ou no controle de vetores), até a população em geral, pelo uso doméstico destes produtos, pelo uso inadequado, pela proximidade a campos de cultura ou pelo consumo de alimentos contaminados. Logo, precauções devem ser tomadas para previnir não somente quadros de intoxicação aguda, mas também controlar a absorção de repetidas doses por longo tempo Sua principal ação farmacológica é a inibição da enzima acetilcolinesterase com conseqüente acúmulo de acetilcolina nas terminações nervosas. Na intoxicação, os efeitos manifestados inicialmente são muscarínicos: miose, sudorese, aumento das secreções brônquicas, salivação, lacrimejamento, vômitos, náuseas e diarréia, bradicardia e dores abdominais. Em seguida, os nicotínicos, quando diminui a severidade dos anteriores, manifestados por: tremores e cãimbras, hipertensão arterial, fasciculação muscular e flacidez, eventualmente morte por parada repiratória ou edema pulmonar.
Dentre os efeitos a longo prazo na exposição a estes compostos, o de maior ocorrência é o aparecimento de neuropatia periférica tardia, além de cefaléia, fraqueza, alteração de memória e de sono, anorexia, fadiga fácil, tremores, nistagmo.
O tratamento geral consiste na manutenção das funções vitais, seguida pela descontaminação com lavagem gástrica, até 6 a 8 horas após a ocorrência, até retorno límpido, caso haja ingestão, (retirar roupas e lavar as áreas atingidas, se exposição dérmica e respiratória) administrar carvão ativado 1grama por quilo de peso (máximo 50g), além de catártico. Especificamente, é utilizada a atropina que apresenta ação anticolinérgica e antimuscarínica e atua como tratamento sintomático, somente deve ser administrado nos quadros onde os sintomas muscarínicos são bem evidentes. Os exames laboratoriais complementares são a dosagem de atividade das colinesterases e a cromatografia em camada delgada (CCD), muito utilizado em toxicologia por ser um método físico-químicode separação de compostos e identificação através de comparação com padrões. A amostra pode ser conteúdo gástrico ou 1 ml de sangue com anticoagulante, o objetivo é confirmar a presença do agente tóxico.
Os piretróides quando ingeridos causam irritação e dor epigástrica, náuseas, vômitos, sonolência, fadiga, fraqueza, parestesia, visão turva, sudorese, dor torácica, pneumonites, fasciculações musculares, convulsões. Quando inalados ocasionam coriza, congestão nasal, irritação da orofaringe, reações de hipersensibilidade e no contato com a pele, queimação, prurido, hipersensibilidade e efeitos sistêmicos.O tratamento engloba as medidas de ordem geral: manutenção das funções vitais, medidas de descontaminação, se ingestão, proceder a lavagem gástrica, carvão ativado e catárticos; se derramamento nos olhos, deve ser realizada lavagem ocular cuidadosamente, se contato dérmico: lavagem corporal.
Podem haver, ainda, a utilização de plantas venenosas para a alimentação, como por exemplo a mandioca-brava (cujo princípio tóxico é mais concentrado nas folhas e raiz). Tal ingestão determina um quadro de intoxicação cianídrica, com elevada mortalidade. O tratamento exige atendimento rápido em centros de referência, consiste em administração de nitritos, visando a formação de metemoglobina, que combina-se com o cianeto formando cianometemoglobina, praticamente atóxica. Administra-se a seguir hipossulfito de Sódio 25% que reagem com os radicais ciaídricos formando tiocianatos (Kit Cianeto).
Plantas ornamentais como "comigo ninguém pode", que são comumente causadoras de acidentes, causam grande irritação de mucosas, pela presença de ráfides de oxalato de cálcio: edema de lábios, dor em queimação, sialorréia, disfagia, afonia, cólicas abdominais, náuseas e vômitos. O tratamento é sintomático, podendo ser administrado um protetor de mucosa, como gelatina dissolvida ou clara de ovo.
É
importante ressaltar alguns pontos para evitar acidentes:
- Conhecer as plantas perigosas da região, da casa e do quintal, pelo aspecto e nome
- Não comer plantas selvagens, inclusive cogumelos, a não ser que sejam bem identificados
- Conservar plantas, sementes, frutos e bulbos longe do alcance de crianças pequenas
- Ensinar as crianças, o mais cedo possível, a não pôr na boca plantas ou suas partes, alertando-as sobre os perigos em potencial das plantas tóxicas
- Não permitir nas crianças o hábito de chupar ou mascar folhas, sementes, ou qualquer parte de plantas
- Identificar a planta antes de comer seus frutos, não baseando-se na observação de aves ou insetos que a consomem, para saber se ela é tóxica
- Nem sempre o aquecimento ou cozimento destroem a substância tóxica
- Não fazer nem tomar remédios caseiros com plantas indiscriminadamente.
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